terça-feira, 15 de junho de 2010

o que lá vai, lá vai.

"O complicómetro é o que nos faz exigir mais dos homens do que eles nos podem dar, desejar sempre o que não se tem, invejar os filhos das outras enquanto ainda não parimos , embirrar com os pequenos defeitos da cara-metade e esquecer porque é que nos apaixonámos por aquela pessoa,maldizer as pequenas contrariedades da existência e não valorizar o que a vida tem de bom.

Uma mulher que aprende a desligar o complicómetro vive mais bem disposta muitos mais dias por ano. Não perde tempo a tentar mudar os outros nem se aborrece com o que não consegue mudar. Não está sempre a criticar nem a deitar abaixo quem tem ao lado, queixa-se pouco e olha para a vida com bonomia. E quando se queixa é porque tem razão, o que faz com que seja ouvida com atenção.

Uma mulher descomplicada é acima de tudo alguém que sabe o que quer, que percebe o que querem os que ama e que aprendeu a defender-se do que não a faz feliz. Em última análise, é alguém que também sabe o que não quer e que aprendeu a dar a volta (e já agora por cima, que é uma forma elegante e muito feminina de dar uma ou mais voltas à vida).".





/Margarida Rebelo Pinto

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Less is more

Sabem a história da princesa Aurora que esperou 100 anos pelo Príncipe Filipe?
O mito do Príncipe Encantado começou aí.
O mito do Príncipe Encantado atravessa toda a existência feminina, tal como o da princesa atravessa a masculina.


Se nós sonhamos com um rapaz alto e espadaúdo, bem educado, que tenha maturidade e até saiba fazer o jantar sem deixar a cozinha em clima de profunda revolução bolchevique, eles também imaginam a mulher perfeita, com a altura certa, a boca certa, a idade certa, o peito certo, o rabo certo e tudo no lugar.

Não sou contra os mitos: pelo contrário, acredito na sua força motora e impulsionadora e concordo com o poeta quando ele diz que de cada vez que um homem sonha o mundo pula e avança. Até pode avançar, mas enquanto isso também roda sobre si mesmo e é essa rotação perpétua que nos mantém vivos e com os pés bem assentes na terra.



Os amores platónicos são óptimos para a literatura, para a poesia, para escrever canções e pintar quadros, para fumar charros e ficar a vegetar em casa a olhar para o ontem que já passou e para o amanhã que ainda não chegou, mas depois não têm nenhuma utilidade prática.

De que nos serve um príncipe extraordinário se não reina no nosso lar?
Qual o interesse de desejar ardentemente um homem que não dorme na nossa cama? Tempo gasto a sonhar com quimeras impossíveis de concretizar é tempo perdido.


Afinal, se calhar nem sequer existe essa coisa definitiva da Pessoa Certa Para a Vida. A pessoa certa para agora pode não ser a pessoa que vai ficar ao nosso lado no futuro, da mesma forma que há uns anos não teríamos tido a capacidade de apreciar naquele que nos acompanha as qualidades que agora nos são tão preciosas.

Esta mania de querer tudo para a vida é um vício burguês e redutor; andamos todos à procura da casa da nossa vida, da viagem da nossa vida, do livro da nossa vida e do homem ou da mulher da nossa vida. Para quê? O melhor de uma viagem é viajar, tal como o melhor de amar é descobrir e aceitar, sem ter de prender o outro com promessas, papeladas, alianças ou anilhas, até porque quem ficar connosco por outras razões que não sejam as do coração, nem merece o que temos para dar ( nem nós merecemos o que ela tenha para dar).

Por acaso até sou daquelas que não acredita no Príncipe Encantado, desde logoporque reconheço alguma falhas de base no mito em questão:
porque é que ele demorou 100 anos a chegar? Então é porque ainda nem tinha nascido, ou seja, podia ser bisneto de Aurora.
E não esqueçamos que, durante 100 anos, Aurora e todo o seu reino estiveram a dormir, o que lhe fez certamente bem à pele. Seria este mito o advento da criogenização humana?


Entre passar 100 anos congelada à espera de um senhor que não se conhece nem do eléctrico e 50 anos a viver a vida com tudo o que ela tem de bom e de mau, quem é que escolhe ir para a arca congeladora?


Só uma mulher muito parva, ainda que seja uma verdadeira princesa.