terça-feira, 23 de março de 2010

Teoremas e soluções


"Há uma instituição portuguesa que é única no mundo inteiro. É o “já agora”. Noutras culturas, tratar-se-ia de um pleonasmo. Na nossa, faz parte do pasmo. O “Já agora” e a variante popular “Já que estás com a mão na massa…”, significam a forma particularmente portuguesa do desejo. Os portugueses não gostam de dizer que querem as coisas. Entre nós o querer é considerado uma violência. Por isso, quando se chega a um café, diz-se que se queria uma bica, e nunca que se quer uma bica. Se alguém oferece, também, uma aguardente, diz-se “Já agora…”. Tudo se passa no pretérito, no condicional, na coincidência (…)”


Miguel Vicente Esteves Cardoso





[E o que fazemos quando as nossas pessoas preferidas se vão embora para longe e precisamos (só) delas para falar?

Sentimo-nos sozinhos e cortamos revistas antigas].

terça-feira, 16 de março de 2010

Tenho procurado Deus no pequeno-almoço (no meio do chocapic já mole).


Há alturas em que sinto que sou mais forte do que aparento e do que penso que sou, mas na maioria das vezes sinto-me frágil e tudo me irrita com facilidade. Não consigo perceber o que vai na cabeça das pessoas quando falo com elas. Ultimamente só me consigo concentrar nas pequenas coisas que me irritam nos outros. As pessoas andam todas parvas ou então pode ser só de mim... estou contra o mundo. É mais fácil estar uma pessoa errada e as outras todas certas, do que estarem todos errados e só uma pessoa estar certa, certo?

Stuck in reverse.
















quinta-feira, 11 de março de 2010

O amor é fodido

"Por que é que fodemos o amor? Porque não resistimos.Parece estar mesmo a pedir. De resto, ninguém suporta viver um amor que não esteja pelo menos parcialmente fodido. Tem de haver escombros. Tem de haver esperança. Tem de haver progresso para pior e desejo de regresso a um tempo mais feliz. Um amor só um bocado fodido pode ser a coisa mais bonita deste mundo.
(..)
Sofrer é fodido porque o amor é fodido - mas como foder com o sofrimento? Fazendo sofrer os outros? Já experimentei. Não resulta. "





Miguel Esteves Cardoso in O amor é fodido

segunda-feira, 1 de março de 2010

Pela boca morre o peixe

“ Quer viver uma aventura fora do casamento? No Gleeden para trair é só entrar. Sem mentiras ou riscos desnecessários”

Este é o título de um dos artigos da revista Happy deste mês. Em 5 páginas, o artigo explica como aceder a um site cuja empresa pretende juntar pessoas que desejam trair o companheiro. Isso mesmo. TRAIR o companheiro.

Segundo a revista Happy, o site está a funcionar desde Janeiro em 158 países e já tem mais de 160 mil pessoas inscritas. Só portugueses são mais de dois mil (mostrando que o facto de o site não estar a operar no nosso idioma não constitui um impedimento na hora de procurar com quem viver uma aventura fora do casamento).

A cada dia aparecem entre duas a cinco mil novas pessoas que querem ser infiéis”, garante á happy Teddy Truchot, um dos directores da sociedade Americana criadora do site.
Os homens estão em maioria mas as mulheres constituem 32 por cento dos membros” explica.


Muito mais avançado do que a velha técnica dos encontros á hora do almoço num qualquer hotel, este novo serviço é muito simples de ser requisitado. Basta entrar no site (www. Gleeden.com), inscrever-se, traçar o seu perfil (que pode incluir diferentes níveis de permissão de acesso) e através das ferramentas de comunicação disponibilizadas (private book, instant messaging ou email) pode descobrir o homem/mulher comprometido(a) com quem gostaria de ter um caso. E são muitos e de diversas nacionalidades aqueles que há para escolher: portugueses, espanhóis, franceses, italianos… “tudo sem mentiras e com a maior segurança”.


O mais curioso é que apesar de cobrar valores diferentes, segundo um sistema de créditos que varia de 7 a 900 euros em função do período de tempo da inscrição, o site oferece um período promocional apenas para o sexo feminino.

Cerca de 5 paginas depois, encontrei na mesma revista conclusões de um inquérito feito a 300 mulheres:


Já foi infiel?

- sim: 45%
- não: 55%

Contou ao parceiro?
- sim: 21%
- não: 79%

Voltaria a ser infiel?
- sim: 36%
- não: 64%

Perdoaria uma infidelidade?

- não: 61%
- sim: 39%

Já foi traída?

- sim: 51 %
- não: 49%

Preferia ser traída com:
- um homem: 37%
- uma mulher: 63%


É verdade que a infidelidade continua (cada vez mais) a afectar todos os casais, apesar de se manter como um assunto tabu, mas este artigo é qualquer coisa que não consigo perceber. Bem sei que o mundo/sociedade evoluiu e que muitos casais hoje em dia optam, com o consentimento do parceiro, por trazer para a relação uma ou mais pessoas para quebrar a rotina, mas por muito que tente nunca vou perceber o acto intencional da traição, isto é, toda aquela vontade e consciência que está a volta do acto.


Hoje a traição passou a ser apenas uma troca de fluidos arrebatados com uma terceira pessoa. Deixou de ser uma expressão inequívoca de desrespeito para quem está ao nosso lado. “Consigo resistir a tudo menos á traição”, disse Óscar Wilde.
A tentação de prevaricar corre no sangue de qualquer ser humano e pode ser englobada em pelo menos dois pecados capitais: o da gula e o da luxúria.

Acredito piamente que não devemos dizer nunca a nada, mas acredito que existem traições e Traições . Será que trair em circunstâncias que nem nós próprios alguma vez pensamos estar (porque nunca pensamos nessa ideia) será o mesmo que criar um perfil, enviar mensagens mais ou menos eróticas a determinada pessoa que escolhemos com base na sua imagem corporal e, mais importante, querer manter um relacionamento sexual com ela fora do casamento de forma constante e duradoura, será exactamente a mesma coisa? No direito chamamos a isto Concubinato (seja ele duradouro ou não).

Não quero com isto dizer que certas traições são perdoáveis e outras não. A problemática de pular a cerca reveste-se de diversos aspectos que se complementam entre si (mentira, omissão etc.).
Acho que os casamentos ou os namoros são uma dura e infinita aprendizagem. Requerem paciência, amor, abnegação e (outra vez) muita paciência.
Secalhar é mesmo como dizem: é uma espécie de missão.
De facto, se olharmos á nossa volta de forma objectiva, apercebemo-nos de que nem todos somos casáveis. É uma questão de lifestyle.

Dá trabalho, mas também dá prazer. E quem corre por gosto nunca se cansa, mesmo quando não consegue correr. Consegue sempre, basta querer.